Acreditamos que compartilhar conhecimento é um dos caminhos mais consistentes para fortalecer o ecossistema Web3 na América Latina. Por isso, a WEB3DEV realizou uma palestra na Ipê City com o objetivo de aproximar mais pessoas dos fundamentos técnicos e sociais que sustentam o ecossistema Polkadot. Foi um encontro potente e cheio de provocações sobre o que realmente significa construir infraestrutura descentralizada, e por que isso importa.
Durante a conversa, nos debruçamos sobre um tema fundamental: o que estamos realmente construindo com a Web3? Ao longo dos últimos anos, muitos associaram blockchain apenas ao universo financeiro. Mas a proposta da Polkadot vai além. Ela se apresenta como uma tentativa real de criar um computador descentralizado, capaz de oferecer serviços computacionais equivalentes aos que hoje são fornecidos por grandes corporações da Web2, como AWS ou Google Cloud.
Esse novo paradigma não nasce apenas de uma demanda técnica. Ele surge como resposta a um problema estrutural: a centralização da infraestrutura da internet. Discutimos como plataformas centralizadas podem, por razões políticas ou comerciais, retirar do ar sites, sistemas e serviços, às vezes com base em critérios opacos. A descentralização, nesse sentido, se revela uma forma de soberania sobre os dados, os códigos e os meios de publicação e operação digital.
Polkadot se propõe a resolver o chamado trilema das blockchains, que envolve segurança, escalabilidade e descentralização. Seu foco está em maximizar a segurança, criando uma base confiável para que outras blockchains (as parachains) possam escalar com independência. Essa arquitetura modular permite que a rede funcione como um processador multicore distribuído, em contraste com o modelo single-thread do Ethereum. Isso significa que a rede pode processar múltiplas tarefas simultaneamente, aumentando sua eficiência e resistência a falhas.
Felloship como um caminho para desenvolvedores na Polkadot
Um dos momentos mais ricos da apresentação foi quando mergulhamos na estrutura de governança da Polkadot. Diferente de outras blockchains onde as decisões críticas acontecem fora da rede, a governança aqui é feita on-chain, com votações públicas e registros transparentes. A rede conta com um modelo de fellowship técnico, no qual desenvolvedores são remunerados com base em evidências de contribuição, como pull requests, relatórios e participação ativa. Tudo isso é visível publicamente e auditável por qualquer pessoa da comunidade.
Também discutimos os desafios práticos dessa governança descentralizada, como o caso recente em que um usuário adquiriu quase todos os cores computacionais disponíveis na rede. Isso levantou um dilema: a Polkadot deveria intervir ou deixar o livre mercado atuar? Essa discussão gerou reflexões profundas sobre a maturidade institucional das DAOs e sobre a tensão entre liberdade econômica e estabilidade da infraestrutura.
Outro debate importante girou em torno da proposta de aquisição da parachain Hydration, que vem ganhando tração no ecossistema. A comunidade se dividiu entre os que veem a compra como uma forma de garantir tração e os que defendem a autonomia do ecossistema, valorizando a competição e o amadurecimento orgânico dos projetos.
Participar desse encontro me fez perceber o quanto precisamos falar mais sobre infraestrutura, não apenas sobre produtos. A verdadeira revolução descentralizada não está nas moedas, mas nos protocolos, nas ferramentas, nos métodos de coordenação e nos valores que sustentam tudo isso.
A palestra da Ipê City foi só o começo. Seguimos investigando, construindo e compartilhando caminhos para que a Web3 cumpra seu potencial de descentralização real, e não apenas no discurso. E a Polkadot, com todas as suas complexidades e inovações, nos ajuda a pensar nessa nova arquitetura do possível.
🎥 Se você quiser assistir à palestra completa, o vídeo está disponível abaixo em inglês. Basta ativar a legenda automática do YouTube para acompanhar em português:
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