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Diogo Jorge
Diogo Jorge

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A Fusão e a ética da Ethereum

Esse artigo é uma tradução de (Yuga Cohler) feita por (Diogo Jorge). Você pode encontrar o artigo original aqui. (https://blog.coinbase.com/the-merge-and-the-ethics-of-ethereum-dec22a43b363).

A Fusão e a Ética da Ethereum

A Fusão está chegando. A tão esperada transição do mecanismo de consenso da rede Ethereum, de Proof-of-Work(PoW) para Proof-of-Stake(PoS) é esperada para chegar em algum momento este ano. Depois da Fusão, a já ativa Beacon Chain vai começar a validar a rede principal da blockchain da Ethereum através de um sistema baseado em recompensas e penalidades (i.e. “stake”) ao invés dos custos associados com a intratabilidade computacional (“work”). Após seis anos em construção,a Fusão vai ser um marco na história das criptomoedas com implicações tanto materiais quanto filosóficas.

Talvez o aspecto mais anunciado da Fusão é a sua eficiência resultante: a projeção é que a transição da Ethereum para PoS vai levar a uma redução de 99.95% no consumo de energia comparado com PoW. Esta evolução será um desenvolvimento bem-vindo no momento que os custos de energia estão aumentando mundo afora. É claro, há contra-argumentos legítimos contra o PoS – por exemplo, a concentração de riqueza que alguns modelos de PoS podem facilitar, assim como a falta de testes em escala comparáveis. Apesar disso, dado a existência de uma rede de blockchain peer-to-peer que continua a operar na PoW – o Bitcoin – a Fusão faz sentido como um próximo passo estratégico para Ethereum e deveria ganhar a boa vontade daqueles com consciência ambiental.

A conquista essencial da Fusão, entretanto, é algo mais humanístico do que eficiência energética. A Fusão tem mostrado ser uma tarefa extremamente complexa com muitos desafios. Ainda assim, sua conclusão será alcançada não através da ordem de uma autoridade central, mas através da coordenação orgânica de indivíduos alinhados em pensamento. Fundamentalmente, o sucesso na Fusão vai provar a viabilidade da descentralização como princípio de organização social.

Eu tenho testemunhado este processo através da minha participação periódica nas reuniões quinzenais do núcleo de desenvolvedores da Ethereum – um fórum regular para contribuintes do Ethereum compartilharem seu progresso, apresentar proposta de melhorias e planejar trabalho. O que é mais memorável para mim sobre essas reuniões é quão democráticas elas são. Trinta pessoas – algumas anônimas, outras não; a maioria com suas câmeras desligadas – se alinhando para dirigir o desenvolvimento de uma rede financeira de $300 bilhões. Qualquer um pode propor um tópico antes da reunião e qualquer um pode oferecer sua opinião. As discussões são substanciais, geralmente focadas nas tarefas de engenharia do momento, mas também abrangendo as muitas disciplinas que sustentam as redes de criptomoedas – economia, design de mecanismos, governança e cultura.

Rotineiramente, o Fundador da Ethereum, Vitalik Buterin participa destes encontros. Apesar de seu status superlativo na comunidade de criptomoedas, Vitalik não é tratado diferentemente do que qualquer outro contribuinte do núcleo: com respeito e honestidade intelectual, mas sem nenhum tratamento especial por sua posição. Desentendimentos sobre abordagens da engenharia são tratados de forma organizada, e desafiar Vitalik é possível, se for melhor para a Ethereum como um todo.

Em uma indústria conhecida por bilionários individualistas exercendo influência, a disposição de Vitalik à abordagens é notável. Então faz sentido que o ethos da descentralização democrática envolva não só os encontros, mas em cada aspecto da Ethereum. Os protocolos financeiros, produtos culturais, os processos de governança e agora, o mecanismo de consenso da Ethereum, todos são subservientes ao princípio da descentralização. O progresso é feito não através de decretos de um soberano único, mas através da coordenação em boa vontade de atores não aliados, onde nenhum tem mais poder do que o outro.

Estas questões de ética da Ethereum são as fundações desta neutralidade confiável – uma propriedade que vai ficar mais valiosa à medida que o tempo passa. Por um lado, sistemas financeiros tradicionais estão cada vez mais vulneráveis a estados-nação que os controlam para seus próprios interesses. Por outro lado, ainda que as blockchains alternativas de L1 podem oferecer maior escalabilidade, conveniência e agilidade, elas tendem a não ser tão descentralizadas em sua infra-estrutura, liderança e processos de tomada de decisão. O compromisso com a descentralização axiomática coloca a Ethereum como um dos únicos sistemas que permitem a armazenagem e transferência de valor com um alto nivel de segurança, mas sem preconceito com intenção ou origem. A Fusão será a última alternativa para “a inerente fraqueza do modelo baseado em confiança” que Satoshi Nakamoto mencionou no Whitepaper do Bitcoin, que é possível pelos valores compartilhados pelo ecossistema da Ethereum.

A lógica moral da Fusão é decididamente otimista, e como deveria ser. Trabalho em equipe, cooperação, humildade, curiosidade, honestidade: estes são valores que nós, intuitivamente, não descrevemos para mercados de capital, e, mesmo assim, eles são as marcas da Ethereum que a permitiram progredir rumo a um dos maiores recursos de engenharia na história da tecnologia financeira. Entender essa fundação ética da nossa democracia descentralizada deveria nos dar uma apreciação renovada da Fusão que está por vir, e nos guiar à medida que nós traçamos um curso para o futuro da criptoeconomia.

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