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Diogo Jorge
Diogo Jorge

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A Fusão: Um Resumo da Próxima Grande Atualização da Ethereum

Esse artigo é uma tradução de (Diogo Jorge) feita por (Perpetual Protocol). Você pode encontrar o artigo original aqui. (https://blog.perp.fi/the-merge-a-rundown-of-ethereums-next-big-upgrade-2aa4ea00f6d4).

Estamos à beira da Fusão para a Ethereum!

Como um dos maiores passos na transição multi-anual para Proof-of-Stake, a fusão deprecia o sistema de Proof-of-Work atualmente usado pela Ethereum e introduz mudanças radicais para melhorar a descentralização, a eficiência energética e a segurança da blockchain de smart contracts mais popular.

Vamos desvendar o que é a Fusão, a importância dessa atualização e as implicações para o ecossistema da Ethereum.

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A Fusão: Visão Geral

Com a testnet Kiln da Ethereum tornando-se uma testnet de Proof-of-Stake (POS a partir daqui) totalmente funcional durante março e com a recente mainnet shadow fork, Ethereum está um passo mais próximo de completar a transição de saída da Proof-of-Work. Anteriormente conhecida como Ethereum 2.0 ou Serenity, a atualização da Fusão está agora muito próxima de acontecer na mainnet!

O primeiro passo na direção da Fusão ocorreu em dezembro de 2020 com o lançamento da Beacon chain, a qual tem operado independentemente da rede principal Proof-of-Work (POW a partir daqui) da Ethereum. Uma ponte de mão única aceita depósitos de forma que você possa fazer stake na moeda original da Ethereum, com pouco mais de 10.9 milhões de ETH em stake até agora na Beacon chain entre mais de 340,000 validadores. Entretanto, é preciso notar que o ETH em stake não pode ser retirado até após a fusão da mainnet.

Para facilitar a escala, atualmente a Ethereum implementa uma abordagem centrada em roll-ups, onde segundas camadas como Optimism e Arbitrum assumem o papel de camadas de execução e chains fragmentadas serão usadas para armazenagem de dados. Seguindo a Fusão, o próximo passo importante será Danksharding (proposto inicialmente pelo pesquisador da Fundação Ethereum, Dankrad Feist), faz da primeira camada da Ethereum uma camada tanto de assentamento como de liberação de dados, reduzindo a complexidade da comunicação cross-chain e melhorando de forma massiva a produtividade em estimadamente 6400x.

EIP-4844 delineia um modelo para Danksharding, que cria uma novo formato de transação conhecido como transações ‘blob-carrying’ de modo que transações com um grande volume de dados não precisam ser processadas pela máquina virtual do Ethereum. Um jeito simples de pensar sobre Danksharding é: ela opera de maneira similar ao BitTorrent no que diz respeito a como os dados são distribuídos (quanto mais peers você tem, mais rápido fica), mas ao mesmo tempo é como uma blockchain, de forma que o consenso é garantido.

Ao fundir a principal chain existente com a chain Beacon, a camada 1 da Ethereum vai se tornar sua própria fragmentação. Como resultado, a mineração vai ser eliminada e substituída pelo staking. Mineradores não serão mais necessários uma vez que a camada de consenso por PoW será removida e o consenso em todos os blocos futuros na blockchain da Ethereum será alcançada com uma camada de consenso por PoS. Validadores vão tomar o lugar dos mineradores para proteger a rede, tomando para si a responsabilidade de propor novos blocos, atestar a validade dos novos blocos e identificar validadores desonestos.

Não há uma data definitiva para a Fusão, mas a estimativa atual é em algum momento no Q3 de 2022. Você pode seguir o progresso do desenvolvimento aqui. Uma vez completados os testes a atualização vai ser marcada usando um limiar de dificuldade de mineração conhecido como Total Terminal Difficulty ao invés de um número específico de blocos como em hard forks anteriores.

Desde o lançamento da Ethereum em 2015 o plano era mudar para um modelo de staking energeticamente eficiente, mas vamos conhecer um pouco mais das razões por trás da transição.

Porque Proof-of-Stake?

PoS tem sido um tópico de pesquisa dentro da comunidade Ethereum desde 2014, um protocolo de consenso que relativamente não havia sido comprovado naquele tempo, mas foi lançado um novo algoritmo de PoW chamado Ethash.

O co-fundador da Ethereum, Vitalik Buterin introduziu o Slasher em 2014, que usou penalizações para resolver o problema de ‘nada em stake’. Nos anos que se seguiram, o design passou por muitas iterações, detalhadas em um thread de Twitter por Buterin e transformado no protocolo atualmente conhecido como Gasper.

Posto de forma simples, validadores que fazem stake de ETH podem receber recompensas por segurar a rede. Entretanto, penalidades também foram introduzidas (conhecidas como slashing) para comportamentos maliciosos.

Existem três razões principais para a transição da Ethereum para PoS:

Eficiencia energética
Segurança
Descentralização

Vamos olhar uma por vez:

Eficiencia Energética

Introduzida inicialmente pelo Bitcoin, PoW é usada como o mecanismo de consenso para concordar sobre a validade das transações na maioria das criptomoedas. Ainda que PoW seja confiável e seguro, consome muita energia.

Ao invés de gastar energia através de equipamento especializado, PoS permite que qualquer proprietário de ETH faça stake de seus tokens como garantia em um software executando um nó para se tornar validador e receber uma parte das taxas de transação.

Após a Fusão, a Ethereum vai entrar numa nova fase e tornar-se mais sustentável e eco-friendly uma vez que PoS não requer hardware com alto consumo de energia. Qualquer hardware de consumo é capaz de rodar o software para operar um validador e a economia de energia esperada é em torno de 99%.

Segurança

O modelo de segurança para PoS segue a ideia de que stakers aumentam o valor econômico e se arriscam a perder parte de seu depósito se agirem maliciosamente, servindo como um impedimento para ataques à rede.

Com um sistema de PoS, qualquer pessoa com 32 ETH pode executar um nó e tornar-se um validador para participar do algoritmo de consenso da rede. Para finalizar um bloco, dois terços de todos os validadores ativos precisam assiná-lo. Se um ator malicioso tentar adulterar o protocolo subjacente usando um grande número de validadores para reverter um bloco finalizado, seus fundos serão cortados (slashed) e eles perderão uma porção de seus ETH em stake.

Portanto, os incentivos são diferentes em um sistema de PoW (onde apenas recompensas são usadas como incentivos para participantes da rede), comparado com o mecanismo de recompensas e punições do PoS.

À medida que a quantidade total de ETH em stake aumenta e mais validadores participam na segurança da rede, os retornos diminuem. Se a quantidade de ETH em stake diminui, então os retornos vão aumentar para encorajar mais participação, tornando assim o protocolo mais seguro.

Descentralização

PoS busca aumentar a descentralização e a resistência às censuras, uma vez que qualquer um com 32 ETH pode usar seu hardware usual para tornar-se um validador. Uma vez que não é necessário um equipamento especializado, as barreiras são mais baixas para se tornar um validador em comparação com se tornar um minerador.

Para tornar-se um minerador em um sistema de PoW, hardware especializado, acesso a fontes de energias baratas e conhecimento técnico são necessários. Devido às economias de escala, pequenos usuários são excluídos da mineração de criptomoedas de PoW, e ela tende a ser menos lucrativa para eles, enquanto grandes atores conseguem capturar uma fatia larga das recompensas.

Como as fazendas de mineração que operam em escala podem baixar seus custos muito mais do que a média dos amadores, fazendas são alvos fáceis para adversários, especialmente estados-nação (como nós vimos com a proibição chinesa à mineração de criptomoedas).

Confira esse debate mediado pelo Bankless para aprender mais sobre as forças e fraquezas relativas do PoS versus PoW.

E Se Eu Não Tenho 32 ETH?

Mas porque os validadores precisam de 32 ETH? Por que não outro número?

Pense nos 32 ETH como uma ligação que garante que os participantes da rede estejam se comportando de forma responsável. Se a quantidade para stake é muito baixa então haverá congestão na rede enquanto, por outro lado, se a ligação é muito alta, se torna proibitivo para os stakers participarem.

Mesmo que você não possua 32 ETH, staking pools como a Lido ou Rocket Pool oferecem a qualquer um a chance de participar do consenso. Ao depositar ETH no Lido, os usuários recebem tokens stETH numa relação de um para um representando seus ETH em stake de forma que eles ainda podem participar nas atividades on-chain. Da mesma forma, Rocket Pool permite que você coloque seus ETH em stake e receba o token de stake liquido rETH.

Aqui está uma lista completa de serviços de stake criada por beaconcha.in.

Entretanto, é preciso estar ciente que fazer o stake sozinho é o método mais seguro, uma vez que staking pools carregam riscos de terceiros.

Como A Fusão Beneficia a Ethereum

A Fusão é vista como aumentando a proposta de valor do ETH de 3 formas principais:

  1. A narrativa em torno do ETH como um criptoativo ambientalmente sustentável,
  2. O impacto favorável nas emissões da rede torna o ETH deflacionário, e
  3. Impulsionando a narrativa de reserva de valor, onde a Fusão torna o ETH um ativo produtivo capaz de gerar rendimentos e fluxo de caixa através dos retornos do stake.

A empolgação em torno da Fusão gira principalmente em torno de como ela vai impactar as emissões de ETH. Atualmente, a rede emite ~13,500 ETH por dia sob o sistema PoW e os mineradores recebem 2 ETH por bloco. ETH também é emitido para validadores na Beacon Chain, dependendo de quantos validadores estão online e participando no consenso da rede. Quanto mais validadores e mais ETH depositados na Beacon Chain mais recompensas são emitidas na camada de consenso.

Sob o sistema de PoS, a emissão será determinada pela razão de staking, ou, em outras palavras, quanto ETH está em stake. A quantia fixa de ETH por bloco é desfeita e ETH só é recompensada a validadores com base em um calendário que ajusta em cada época (6,4 minutos).

A emissão anual cairá de cerca de 4.3% para 0.4% uma vez que a Fusão estiver completa. A emissão dinâmica torna, entretanto, mais difícil prever a política monetária da Ethereum no longo prazo, e qualquer projeção repousará em suposições sobre a quantidade de ETH em stake e a quantidade de moedas queimadas.

De qualquer forma, ultrasound.money permite que você insira uma quantia em stake, um custo base de “gas” e a data da Fusão para simular como o calendário de fornecimento de ETH muda após a Fusão.

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Além da emissão, a queima de moedas é um fator importante afetando a dinâmica do fornecimento de ETH. A proposta de melhoramento da Ethereum 1559 (EIP-1559) foi implementada em Agosto de 2021 e como parte desta mudança, um pouco de ETH é permanentemente removida da quantidade circulante cada vez que uma transação é feita. Se as atividades de transação aumentarem após a Fusão, então também aumentará a quantidade de ETH queimado, fazendo este ativo mais deflacionário e aumentando a narrativa de reserva de valor.

A narrativa do halving triplo: na sequência da Fusão, a emissão de ETH será reduzida em 90%, equivalente a reduzir à metade três recompensas de bloco de (ou 12 anos) para o Bitcoin. Uma vez que PoW será desfeita, mineradores não serão mais vendedores naturais, o que vai reduzir significantemente a pressão de venda sobre o ETH.

Assim como a redução na emissão, a Fusão também vai transformar o ETH em uma commodity produtiva (tornando-omais similar a uma equity pagando dividendos), uma vez que possuidores poderão gerar retorno do stake. À medida que mais ETH é colocado em stake a oferta disponível no mercado será reduzida, o que pode, em teoria, impactar positivamente o preço.

Atualmente, ETH é simplesmente uma commodity digital que é consumida para facilitar transferências de valor sem fronteiras e execução de smart contracts. Entretanto, com a transição para PoS, ETH se tornará um ativo com rendimento assim com uma commodity digital.

Uma vez que investidores poderão receber um retorno fixo como validadores na Ethereum e, nos seis meses seguintes à Fusão, o ETH em stake poderá ser sacado da Beacon Chain, imagina-se que a conclusão dessa atualização abrirá os portões para um envolvimento institucional maior.

Quais são os Riscos Envolvidos na Fusão?

A Fusão é um empreendimento ambicioso e nunca houve uma mudança tão grande para uma rede blockchain de liderança na história das criptomoedas. Riscos técnicos ao redor da complexidade das atualizações. Péter Szilágyi, líder de equipe na Ethereum tem manifestado essas preocupações em um thread de twitter.

Uma vez que mineradores serão substituídos por validadores, há um risco de que eles se unam e façam um fork do protocolo para continuar a chain de PoW. Os mineradores podem também fazer dump dos ETH no momento da Fusão e trocar hashrate para outras chains de PoW, expondo a Ethereum a ataques de 51%. Entretanto, a probabilidade de uma divisão duradoura da blockchain da Ethereum é muito baixa uma vez que o ecossistema não oferece amplo apoio a continuação da versão PoW da Ethereum.

A centralização entre os provedores de Staking-as-a-Service é uma preocupação relevante da blockchain de PoS. Uma vez que delegar esses serviços é mais fácil para os usuários do que executar seu próprio nó de validação, os maiores validadores (Lido, Coinbase e Kraken) atualmente controlam quase 50% do total de ETH que está em stake.

O Que Acontecerá com a Ethereum Após a Fusão?

Usuários não terão que fazer nada, e não haverá mudança na experiência uma vez que a fusão é relativa ao mecanismo de consenso que faz a segurança da rede, e impacta apenas naqueles que interagem diretamente com a camada de consenso. (i.e., aqueles que coletam dados para receber recompensas da rede). Como resultado, a atualização não vai propriamente aliviar os preços de gas, mas a Fusão pavimenta o caminho para Danksharding, que vai atender a questão da escalabilidade.

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Fonte: Ethereum.org

Uma vez que a mineração será substituída por staking, validadores tenderão a ganhar recompensas maiores após a Fusão. As taxas prioritárias que são atualmente recebidas por mineradores serão realocadas para validadores ativos. Depois, existe o Valor Máximo Extraível (MEV), onde validadores poderão reorganizar transações dentro dos blocos para criar lucros maiores.

A próxima atualização da Ethereum será o Shangai hard fork, que deve ser ativado pelo menos seis meses depois para trazer foco à escalabilidade, com reduções das taxas na segunda camada, permitindo aos validadores sacar seus depósitos da Beacon chain ativando a EIP-4859 e atualizações na Ethereum Virtual Machine.

Uma visão geral de alto nível do roadmap da Ethereum após a Fusão é mostrada abaixo em um tweet de Vitalik Buterin. Estágios sucessivos (chamados de Surge, Verge, Purge e Splurge) focarão em impulsionar ainda mais a escalabilidade do protocolo.

Concluindo, a Fusão será um grande empreendimento que muda significativamente a forma como a Ethereum opera e verá a transição do ETH de uma commodity digital para um ativo com rendimento, o que deve provavelmente despertar novo interesse institucional na Ethereum. Ainda que haja muito em jogo, espera-se que os benefícios potenciais para a escalabilidade prevaleçam sobre os riscos envolvidos.

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