Esse artigo foi traduzido por Fatima de Lima Paula, e o original pode ser encontrado aqui.
A riqueza da web atual surgiu dos esforços combinados de milhões de pessoas aproveitando a “inovação não permissionada” — a habilidade de criar conteúdos e aplicativos sem pedir para ninguém antes. Infelizmente, a falta de liberdade de dados resultou num ambiente que é efetivamente adverso aos interesses dos participantes.
Um pequeno número de empresas atraiu um grande número de usuários para participar, seduzindo-os com efeitos de rede e depois, os capturou, mantendo seus dados a fim de impedi-los de buscar alternativas. Da mesma forma, essas plataformas maciças atraíram aplicativos para criar sobre seus ecossistemas, antes de cortar o acesso ou contrapor ativamente aos seus interesses quando os aplicativos se tornaram bem-sucedidos. Como resultado, esses walled gardens sufocaram a inovação e efetivamente monopolizaram vastas seções da web.
No futuro, poderemos consertar isso, usando novas tecnologias que reabilitarão a inovação não permissionada do passado, de forma a criar uma web mais aberta em que usuários são livres e aplicativos são mais favoráveis do que adversos a seus interesses.
Já vimos o poder deste tipo de liberdade no setor financeiro, onde moedas digitais descentralizadas como o Bitcoin e sua tecnologia de blockchain de base facilitou transferências de bilhões de dólares em peer-to-peer (P2P) a uma fração de preço do sistema bancário tradicional. A mesma tecnologia de base também permite que participantes da economia de bens virtuais de mais de $50B rastreiem, tomem posse e negociem esses bens entre eles sem pedir permissão. Isso permite a passagem de bens do mundo real para o domínio digital, com propriedade e rastreamento verificados, assim como os digitais.
Além do que vimos hoje, uma web onde a liberdade de dados permite a inovação sem permissão por padrão impulsionará uma nova forma de desenvolvimento de software. Nessa web, os desenvolvedores podem construir rapidamente aplicativos a partir de componentes de estado aberto e potencializar seus esforços com novos modelos de negócios que são habilitados a partir do próprio software, em vez de depender de relacionamentos parasitas com seus usuários. Isso não apenas acelera a criação de aplicativos que têm um relacionamento mais honesto e colaborativo com seus usuários, mas também permite o surgimento de negócios totalmente novos construídos em cima deles.
Esses novos aplicativos e a web aberta que os potencializam só podem ser habilitados pelo tipo certo de infraestrutura. A plataforma dessa nova web não pode ser controlada por uma única entidade, nem ter seu uso limitado por escalonabilidade insuficiente. Deve ser tão descentralizada no projeto quanto a própria web e suportada por uma comunidade de operadores amplamente distribuída, de forma que o valor que ela armazena não pode ser censurado, modificado ou removido sem permissão dos usuários em nome dos quais este valor é armazenado.
Esta é a infraestrutura do NEAR.
O NEAR é uma plataforma de aplicativo descentralizada que é projetada para habilitar a web aberta do futuro e impulsionar sua economia. Ele usa a mesma tecnologia básica subjacente que tornou o bitcoin uma moeda indestrutível e combina com avanços de ponta num consenso da comunidade, fragmentação e usabilidade de banco de dados. Nessa web, tudo, desde novas moedas até novos aplicativos para novas empresas podem ser criados, abrindo a porta para um novo futuro.
Porque a descentralização é importante
Aparentemente, muitos dos objetivos de projeto de uma plataforma baseada em blockchain descentralizada podem ser alcançados mais rápido e mais barato usando plataformas existentes.
Por exemplo, o custo para armazenar dados ou executar computação na blockchain do Ethereum estão entre milhares e milhões de vezes mais altos do que o custo de realizar as mesmas funções nos Serviços da Web da Amazon. Um desenvolvedor sempre pode criar um aplicativo “centralizado” ou mesmo uma moeda centralizada numa fração do custo de fazer a mesma plataforma descentralizada, porque a plataforma descentralizada, por definição, possui muitas redundâncias em seu processo e no armazenamento.
Por que é importante pagar um custo adicional para sustentar a descentralização?
Porque nem todos os dados são criados igualmente.
Alguns elementos do valor, por exemplo, os _bits _que representam o proprietário da moeda digital, a identidade pessoal ou os títulos de ativos são altamente confidenciais. Num sistema centralizado, os seguintes atores podem alterar diretamente o valor de quaisquer saldos com os quais entre em contato:
- O desenvolvedor que controla a liberação ou atualização do código do aplicativo
- A plataforma onde os dados são armazenados
- Os servidores que executam o código do aplicativo
Mesmo que nenhum desses atores pretendam operar com má fé, as ações dos governos, forças policiais e os_ hackers_ podem, facilmente, virar as mãos contra seus usuários e censurar, modificar ou roubar os saldos que deveriam proteger.
Um usuário comum confiará em um aplicativo centralizado comum, apesar de suas potenciais vulnerabilidades, com dados e computação do dia a dia. Normalmente, somente bancos e governos são confiáveis suficientemente para manter a custódia da maioria das informações confidenciais — saldos de patrimônio e identidades. Mas, essas entidades também estão sujeitas às próprias forças humanas da arrogância, corrupção e roubo.
Por exemplo, a Crise Financeira Global de 2008 mostrou os problemas fundamentais de confiar num sistema bancário super-alavancado. Ela também forneceu um exemplo oportuno de como os governos de todo o mundo implementam controles de capital substanciais sobre os cidadãos em tempos de crise. Além desse exemplo, tornou-se uma verdade incontestável que os hackers agora, provavelmente, possuem a maioria ou todos os seus dados confidenciais.
Por outro lado, um sistema totalmente descentralizado não possui um botão “off” e não tem uma maneira pela qual forças nefastas imponham sua vontade nos aplicativos criados por ele. Para conseguir isso, o sistema requer redundância substancial tanto na computação quanto na armazenagem dos dados, pois quaisquer pontos de falha nessas áreas podem ser explorados. Quanto mais confidencial for a informação a ser armazenada, mais redundância e segurança serão necessárias… e mais importante a descentralização.
Sistemas com base na Blockchain são o fundamento dessa descentralização, pois sua imutabilidade fornece os primitivos — tokens, por exemplo — necessários para incentivar cooperação e coordenação entre os vários atores que constroem esses sistemas e potencializam sua redundância. Uma vez que esses sistemas são lançados, eles se tornam essencialmente “indestrutíveis”.
Os benefícios de criar aplicativos em cima de tal sistema são substanciais. Não só a informação altamente confidencial fica segura, mas a moeda é agora uma primitiva nativa do meio. Esses aplicativos descentralizados operam numa infraestrutura mais complexa que a da web de hoje, mas têm acesso a um_ pool _instantâneo e global de moeda, que a web de hoje em que os dados são armazenados nos silos de corporação individuais, não pode fornecer. Tão importante também, os dados protegidos por esses aplicativos são totalmente de propriedade e controlados por seus usuários finais, e não pelos próprios aplicativos. Isso abre uma abundância de novos casos de uso que não poderiam existir sem uma infraestrutura descentralizada.
Enquanto a descentralização é crucialmente importante, nem todos os sistemas com base em blockchain são descentralizados. A descentralização é uma escala que pode ser medida em várias dimensões, mas, fundamentalmente, tudo se resume em quantos atores no sistema devem ser corrompidos a fim de quebrar o próprio sistema e qual a probabilidade de isso ocorrer. Quanto mais importantes forem os ativos que o sistema deve proteger, mais importante é que a descentralização seja alcançada ao invés de um sistema que meramente fala da boca para fora. As próximas seções descreverão a arquitetura técnica que alcançam a descentralização para o NEAR.
Um breve resumo do NEAR
O NEAR é uma plataforma de aplicativo descentralizado que funciona na blockchain do protocolo NEAR. Essa blockchain, que funciona através de centenas de máquinas em todo o mundo, é organizada para não precisar de permissão, eficiente e segura o suficiente para criar uma camada de dados forte e descentralizada para a nova web.
Essencialmente, NEAR é uma plataforma para executar aplicativos que têm acesso a um pool compartilhado e seguro de dinheiro, de identidade e de dados, que são de propriedade dos seus usuários. Mais tecnicamente, combina os recursos de rede resistente a partições, computação sem servidor e armazenamento distribuído num novo tipo de plataforma.
Para comparação, Amazon’s Web Services e Microsoft’s Azure operam grande parte da infraestrutura da web hoje e são duas das “nuvens” mais comuns, onde aplicativos são implementados. Cada um dos servidores individuais que compõem essas nuvens de computação e armazenamento são controlados por uma única entidade. Isso significa que tudo que é executado e armazenado dentro deles está totalmente à mercê dessas empresas ou agências governamentais que exigem que façam coisas contra sua vontade. Dados podem, facilmente, serem perdidos, censurados, alterados, vendidos ou hackeados. Isso porque só existe um único ponto de falha.
Aplicativos que são implementados para esses servidores em nuvem podem também ser modificados continuamente por seus desenvolvedores originários ou quem possui suas credenciais. Isso facilita a atualização do software para os desenvolvedores, mas também significa que qualquer dado acessível por um aplicativo pode ser censurado, modificado ou roubado por esses mesmos desenvolvedores, ou em sua própria direção ou porque eles foram hackeados ou forçados por autoridade governamental a fazer isso. Como os dados do usuário são geralmente armazenados em grandes base de dados em pool, esses desenvolvedores se tornam alvos suculentos para justamente estas atividades .
Conjuntamente, a vulnerabilidade dos desenvolvedores e das próprias plataformas tornam vulneráveis quaisquer dados confidenciais armazenados nessas plataformas.
Quando a nuvem que hospeda esses aplicativos é, em vez disso, executada por uma comunidade global da qual qualquer pessoa pode participar, os ativos e programas armazenados por ela tornam-se transparentes e essencialmente “indestrutíveis”, permitindo aos usuários armazenar coisas significativas, como dinheiro, identidade e ativos digitais e com segurança, negociá-los com qualquer pessoa, sem necessidade de permissão de ninguém ou de plataforma. Não há nenhum único ponto de falha porque há múltiplas redundâncias em todo o mundo e há segurança devido ao consenso programático que é alcançado entre os membros da comunidade que compõem a rede em nuvem.
Para eliminar a vulnerabilidade do desenvolvedor, aplicativos implementados para essa nuvem podem ser programaticamente bloqueados de modo que nenhuma atualização adicional possa modificar o estado que eles acessem. Essencialmente, uma vez atingido esse estado, eles se tornam autônomos e podem ser confiáveis para continuar desempenhando suas funções sem falha ou interferência. Isso permite um armazenamento seguro de ativos de grandes valores, como dinheiro, identidade e elementos fundamentais de dados.
O Bitcoin pode ser pensado como a primeira versão, bem básica dessa nuvem global de comunidade, apesar de ser usada primariamente somente para armazenar e mover a moeda digital Bitcoin.
O Ethereum é a segunda versão ligeiramente mais sofisticada, que expandiu os princípios básicos do Bitcoin para criar uma computação e, uma plataforma de armazenamento mais geral, embora seja uma tecnologia crua que não alcançou uma adesão geral.
O NEAR representa uma evolução além do que veio antes e é a primeira plataforma descentralizada de aplicativo para resolver todos os três principais desafios a fim de adquirir adesão geral: usabilidade, escalabilidade e segurança.
Desafios de Criar uma Comunidade em Nuvem
Um sistema gerenciado por comunidade como esse tem muitos desafios diferentes da infraestrutura de “nuvem” centralizada, que é executada por uma única entidade ou grupo de entidades conhecidas. Por exemplo:
- Deve ser tanto inclusiva para qualquer pessoa, como também segura contra manipulação ou captura.
- Os participantes devem ser compensados de forma justa pelo seu trabalho, ao mesmo tempo, evitando criar incentivos para conduta negligente ou maliciosa.
- Deve ser tanto teoricamente seguro para que os atores encontrem o equilíbrio certo, como também resistente à manipulação, de forma que os maus atores sejam ativamente impedidos de influenciar negativamente o sistema.
Um sistema com base no mercado livre é a única forma de alinhar perfeitamente esses incentivos, de modo que a Plataforma NEAR usa um token — também chamado “NEAR” — para juntar isso tudo. Esse token permite que os usuários desses recursos da nuvem, independentemente de onde estejam no mundo, compensem adequadamente os prestadores de serviços e se assegurem de que esses participantes operem de boa fé.
Para permanecer descentralizado, é importante que um sistema dirigido por comunidade como essa seja independente de permissão, o que significa que qualquer um tem oportunidade de participar. Para assegurar isso, o anonimato é fundamental e portanto, não é necessário revelar a identidade de uma parte. Embora isso proporcione a descentralização, também abre uma ampla gama de mau comportamento, de modo que todos os mecanismos do sistema devem assumir que um ator individual pode estar controlando uma única conta ou um milhão de contas. Assim, operamos com um princípio de “um token equivale a um voto” para participar e gerir o sistema.
Esses sistemas também devem equilibrar a necessidade de ser robustamente descentralizados com a realidade de que tecnologias e comunidades devem ter a liberdade de iterar ou correr o risco de se tornarem obsoletas. Assim, a saúde a longo prazo da comunidade requer a manutenção de um amplo grau de descentralização e fortes garantias de segurança na própria plataforma, ao mesmo tempo em que cria processos eficientes para evoluir sua tecnologia ao longo do tempo.
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