Lançado na rede principal do Bitcoin pelo desenvolvedor Casey Rodarmor em 20 de janeiro de 2023, os NFTs Ordinals são simplesmente a maneira mais recente de criar NFTs no Bitcoin. Embora os tokens não fungíveis (NFTs) no Bitcoin não sejam um conceito novo, com redes de camada 2 no topo do Bitcoin, como a Counterparty e a Stacks, já permitindo NFTs baseados em Bitcoin, os NFTs Ordinals apresentam uma arquitetura fundamentalmente diferente de outros NFTs no Bitcoin.
Desde o seu lançamento, mais de 200.000 NFTs Ordinals foram cunhados por uma crescente comunidade de usuários, desenvolvedores e entusiastas que estão animados com o potencial dos NFTs nativos do Bitcoin. Mas o que exatamente são os NFTs Ordinals, como funcionam e por que são diferentes?
Os NFTs Ordinals tiveram um crescimento constante desde que foram lançados pela primeira vez, com uma variedade de tipos de mídia agora incorporados em satoshis individuais.
O que são inscrições ordinais?
Os Ordinals são meios de criar NFTs no Bitcoin anexando dados como imagens, vídeos e muito mais a um satoshi individual na blockchain básica do Bitcoin. Ao contrário de seus predecessores, os NFTs Ordinals não existem em uma camada separada do Bitcoin. Em vez disso, eles usam um sistema de ordenação arbitrário, mas lógico, chamado teoria ordinal para dar a cada satoshi individual do Bitcoin um número único. Nesse sentido, os NFTs Ordinals são completamente nativos do Bitcoin. Eles funcionam sem alterações no protocolo do Bitcoin, não requerem camadas extras e são compatíveis com a rede.
Um “satoshi” ou “sat” é equivalente a 1/100.000.000 de um único Bitcoin, a menor denominação possível do Bitcoin.
A história dos NFTs Ordinals
Embora os NFTs Ordinals tenham sido realmente desbloqueados por meio da conceituação da teoria ordinal, os NFTs Ordinals como existem hoje foram possíveis pelas atualizações Segregated Witness (SegWit ou Assinatura Segregada) e Taproot do protocolo Bitcoin, que ocorreram em 2017 e 2021, respectivamente.
É importante observar que essas atualizações não foram feitas com o objetivo específico de permitir esses novos tipos de NFTs. Mas como cada atualização aumentava a quantidade de dados arbitrários que podiam ser armazenados na cadeia dentro de um bloco - o que significa que agora havia espaço para imagens, vídeos e até jogos - os NFTs Ordinals foram involuntariamente possibilitados como resultado de sua implantação.
Segregated Witness (SegWit)
O Segwit foi uma atualização de 2017 que resultou em um soft fork da blockchain do Bitcoin. A atualização efetivamente separou uma transação do Bitcoin em duas seções, adicionando uma seção de “witness data” (dados de assinatura) que poderia suportar dados arbitrários.
O SegWit separa as transações e dados de testemunha (assinatura) em diferentes seções e permite que dados arbitrários sejam armazenados na seção de testemunha.
Os dados de testemunhas foram originalmente criados como uma forma de:
- Contornar as limitações rigorosas do limite de tamanho de bloco.
- Permitir a transmissão opcional e arbitrária de dados.
- Evitar a maleabilidade não intencional da transação.
Em um sentido técnico, a implementação do SegWit significava que as transações não precisavam mais incluir dados de testemunha (geralmente a assinatura digital do remetente). Em vez disso, um espaço adicional para dados de testemunha foi criado como uma estrutura separada no final de um bloco. Ele suportava a transmissão arbitrária de dados e tinha um “peso de bloco” com desconto que, de forma inteligente, mantinha grandes quantidades de dados dentro do limite de tamanho de bloco do Bitcoin para evitar a necessidade de um hard fork.
Este foi o primeiro precursor dos NFTs Ordinals porque expandiu os limites de quantos dados arbitrários alguém poderia incluir em uma transação.
Taproot
Implementada em novembro de 2021, a Taproot foi uma atualização multifacetada destinada a melhorar a privacidade, escalabilidade e segurança do Bitcoin. Ao fazer isso, a Taproot criou um sistema mais fácil para armazenar dados arbitrários de testemunhas e flexibilizou as limitações de quantos dados arbitrários poderiam ser colocados dentro de uma transação do Bitcoin. O objetivo inicial dessa atualização era aprimorar ainda mais os contratos inteligentes baseados em Bitcoin, como contratos com prazo determinado, que geralmente são descritos em dados de testemunhas.
Essas alterações foram um facilitador importante para os NFTs Ordinals, que armazenam dados dos NFTs em scripts de gastos da Taproot no caminho do script. A atualização facilitou a estruturação e o armazenamento de dados arbitrários de testemunhas, criando a base para o padrão “ord”. E com a flexibilização dos requisitos de dados, uma única transação poderia, hipoteticamente, preencher um bloco inteiro com seus dados de transação e de testemunha até o limite de tamanho de bloco de 4 MB - expandindo bastante os tipos de mídia que podem ser colocados na cadeia.
Como funcionam os NFTs do Bitcoin?
Para entender como os NFTs Ordinals funcionam, é importante fazer uma distinção entre os termos “Ordinals” e “inscrições”, ambos usados para se referir a esse novo tipo de NFT do Bitcoin.
- Ordinals são um sistema para ordenar satoshis de forma a criar a propriedade “não fungível” necessária para criar os NFTs.
- As inscrições são o conteúdo do próprio NFT Ordinals - a imagem, o texto, o vídeo ou qualquer outro dado arbitrário que um usuário consideraria sinônimo de um NFT.
Esses NFTs podem ser melhor compreendidos traçando um paralelo com os NFTs não-Bitcoin, que são tokens únicos 1 de 1, que geralmente possuem dois componentes: tokenID e metadados.
TokenID
Os tokens fungíveis são intercambiáveis. Por exemplo, não há como diferenciar duas moedas Ethereum diferentes, assim como é impossível distinguir um dólar do outro. Os TokenIDs colocam o “não fungível” no NFT — eles fornecem a cada NFT um código de barras exclusivo que permite aos usuários diferenciar os tokens uns dos outros.* Um tokenID é o que torna um NFT funcionalmente exclusivo.
*Os NFTs podem ter o mesmo tokenID se forem criados por contratos inteligentes diferentes. Nesse caso, o contrato inteligente é como você diferencia um NFT do outro.
Teoria Ordinal como TokenID
O Bitcoin é fungível, o que significa que não há como diferenciar um bitcoin do outro. É aí que entra a teoria ordinal.
A principal inovação dos NFTs Ordinals é que eles fornecem um sistema para numerar cada satoshi individual. O resultado: um ID exclusivo para cada satoshi na blockchain do Bitcoin. Cada Ordinal, em sua forma mais básica, é simplesmente um satoshi ao qual foi atribuído um número único. Veja como funciona.
Na teoria ordinal, os satoshis individuais são numerados na ordem em que são extraídos. O primeiro ordinal é o primeiro satoshi já cunhado, datando de 2008. Quando um satoshi é transferido, a ordem é preservada por meio de um sistema de “primeiro a entrar, primeiro a sair” com base na ordem das transações.
Os Ordinals são numerados na ordem em que são extraídos. A ordem é preservada nas transações com base em um processo de “primeiro a entrar, primeiro a sair”.
A teoria ordinal não viola a natureza da fungibilidade do Bitcoin. O protocolo Bitcoin não reconhece formalmente esta nova ordenação de satoshis. Em vez disso, uma comunidade de entusiastas comuns simplesmente decidiu atribuir significado coletivamente a esse sistema de numeração e construir ferramentas que o respeitem.
Metadados
Em blockchains não-Bitcoin, os metadados são o anexo opcional de dados arbitrários a um token não fungível. Ele é usado para representar e mostrar a vasta gama de arte, ativos no jogo, fotos de perfil, ativos financeiros e muito mais que se tornaram sinônimos da palavra “NFT”.
Inscrições como metadados
Os NFTs Ordinals não têm um local designado para metadados como suas contrapartes não-Bitcoin. Em vez disso, os metadados para os NFTs Ordinal são mantidos nos dados de testemunha de uma transação.
Um exemplo de uma inscrição Bitcoin – uma imagem CryptoPunk reaproveitada por seu proprietário.
É também daí que vem o termo “inscrição” – os dados anexados a um satoshi específico são “inscritos” nessa parte específica de uma transação Bitcoin. Para inscrever um satoshi específico com dados e criar um NFT Ordinal, os usuários devem enviar uma transação de um satoshi individual para uma carteira compatível com a Taproot e anexar os metadados desejados como parte da transação. Eles também devem estar atentos ao pedido da transação para garantir que o satoshi desejado não seja usado como uma taxa de rede. As ferramentas que automatizam esse processo ajudam a remover esses riscos e tornam o processo muito mais fácil para usuários não técnicos.
Qual é a diferença entre os Ordinals do Bitcoin e os NFTs?
A principal diferença entre os Ordinals do Bitcoin e os tipos mais padrão de NFTs é sua natureza fluida. Como o protocolo Bitcoin não reconhece formalmente a teoria ordinal, um Ordinal pode ser fungível ou não fungível. Depende completamente de quem possui o Ordinal e se deseja preservar o satoshi individual.
Por exemplo, se um usuário de Bitcoin não reconhecer ou se importar com um Ordinal ou com os dados anexados a ele, ele pode simplesmente ser usado como qualquer outro Bitcoin. Os Ordinals são fungíveis dessa forma - eles podem ser usados para pagar taxas de rede ou enviados como pagamento, embora os dados arbitrários ainda permaneçam anexados. O mesmo não se aplica a um NFT da Ethereum. Um NFT da Ethereum é completamente diferente de uma moeda Ethereum, e é impossível misturar um token fungível com um NFT porque a rede Ethereum trata cada tipo de token de maneira diferente.
O debate sobre os NFTs Ordinals
A ascensão dos NFTs Ordinals gerou discussões dentro da comunidade Bitcoin sobre o papel fundamental e a ética do Bitcoin.
Alguns argumentam que o Bitcoin deve ser usado para transações financeiras seguras, que o aumento de inscrições Ordinais alimentadas por memes está preenchendo desnecessariamente o espaço de blocos do Bitcoin e aumentando as taxas de transação. Outros estão entusiasmados com o valor “memético”/cultural que os NFTs Ordinals podem trazer para a blockchain do Bitcoin e a ideia do Bitcoin expandir seu banco de dados imutável e descentralizado além das transações financeiras.
Como os Ordinals são totalmente válidos no software atual do Bitcoin, remover a capacidade de criar inscrições Ordinais exigiria uma atualização do protocolo do Bitcoin. Portanto, cabe à comunidade do Bitcoin decidir coletivamente se os Ordinals estão ou não aqui para ficar.
O artigo original encontra-se no blog da Chainlink. Traduzido por Marcelo Panegali.
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