Esse artigo é uma tradução de Opeyemi feita por Alex Gomes. Você pode encontrar o artigo original aqui.
O objetivo de ambas tecnologias, Cross-Chain (cadeia cruzada) e Multi-Chain (múltiplas cadeias), é permitir que dados e informações possam trafegar entre diferentes blockchains. A sua diferença entra no seu método para alcançar este objetivo.
Cross-Chain
A Cross-Chain é uma Tecnologia que melhora a conexão entre as blockchains, permitindo assim que ocorra a troca de informações entre elas. Isso elimina a natureza isolada das blockchains e cria uma rede de conexão entre as mesmas. Por exemplo, a capacidade de fazer chamadas entre vários provedores de rede mostra a importância da transparência dos sistemas neste espaço. Da mesma forma, o mesmo nível de transparência entre as blockchains forneceria o mesmo nível de eficiência.
Os objetivos primários desta tecnologia é de promover a troca de informações entre as redes blockchains, troca de moedas ou tokens e de fornecer resistência à censura.
As pontes Cross-Chain são criadas para fornecer suporte às transações cross-chain. Ela permite que usuários enviem e recebam tokens através das redes sem a necessidade de uma troca centralizada ou um processo de conversão. De forma simplificada, essas pontes atuam como um meio de transporte entre as blockchains. Assim, como as pontes físicas se conectam a lugares, os ocupantes de ambos os lados conseguem interagir uns com os outros por meio delas.
Os projetos Cross-Chain incluem os seguinte protocolos de ponte: Tezos Wrap Protocol Bridge, Binance Bridge, Avalanche Bridge, Wormhole Token Bridge, SmartBCH Bridge, BitGo’s Wrapped Bitcoin (WBTC), Axie Infinity’s Ronin bridge, Terra’s Shuttle bridge, entre muitos outros.
Problemas com as Pontes Cross-Chain
A seguir estão alguns dos problemas com o estado atual das pontes Cross-Chain.
Centralização
Para entender sobre o problema da centralização, é importante entender como funcionam as pontes Cross-Chain.
Imagine que você tem Bitcoins (BTC) e deseja utilizá-los com um protocolo DeFi na Ethereum. Você planeja criar uma ponte para levar os seus BTCs da rede Bitcoin para a rede Ethereum. A ponte manterá seus equivalentes sobre as moedas e as cunhagens de Bitcoin (WBTC, BTCB, renBTC, sBTC, iBTC e muito mais) no ETH, prontas para o nosso uso.
Nada das suas BTCs deixam realmente a rede Bitcoin, ao invés disso, a quantidade de BTC que você pretende usar na rede Ethereum está sendo bloqueada por um contrato inteligente, que cunha BTC de uma forma que seja compatível com a rede Ethereum, normalmente o token ERC-20.
Fazer o uso da ponte é benéfico, pois realizar essa troca no modo regular é mais custoso. Isso envolveria a necessidade de você converter BTC para ETH no momento da troca, retirá-lo da sua carteira, e quando o processo estivesse pronto, você teria que depositá-lo novamente em sua carteira por meio de outra troca.
Se você fizer isso regularmente, terá que converter bitcoin em ETH em uma plataforma de negociação, retirá-lo para uma carteira e depositar novamente em outra. Quando o processo terminar, você terá pago por mais taxas do que provavelmente planejou em um primeiro momento.
O problema da centralização existe porque os usuários precisam abrir mão do controle das moedas que desejam converter para a ponte com a qual estão interagindo. As pontes são como o ditado popular, 8 ou 80, são seguras (centralizadas ou confiáveis) ou não seguras (descentralizadas ou não confiáveis). A diferença está em quem detém as moedas ou tokens que estão sendo utilizados para criar novos tokens na blockchain conectada. Por exemplo, todo Wrapped Bitcoin (WBTC) é mantido pela empresa BitGo, no qual disponibiliza uma ponte segura e centralizada. Em contrapartida, os tokens na Wormhole Bridge são mantidos por um smart control (controle inteligente), tornando-a mais descentralizada.
Contudo, para ambos os tipos de pontes, existe um ponto central de falha, elas criam alvos onde hackers podem explorar as vulnerabilidades. A abordagem descentralizada, que era um procedimento mais seguro que a abordagem centralizada, no fim das contas não é totalmente segura assim. A Wormhole bridge hack em fevereiro de 2022 demonstrou como os protocolos descentralizados também são inseguros.
Problemas de Segurança
Os problemas de segurança das pontes Cross-Chain causaram grande preocupação para os usuários do mundo criptográfico.
Vitalik Buterin, cofundador da Ethereum, escreveu em uma sessão do Reddit AMA sobre o assunto, em janeiro de 2022. Lá, ele explicou por que o futuro da interoperabilidade entre blockchains será multi-chain e não cross-chain.
Meu argumento do porquê o futuro será a multi-chain, mas não será a cross-chain: Existem limites fundamentais de segurança de pontes que atravessam múltiplas "zonas de soberânia". De https://t.co/3g1GUvuA3A: pic.twitter.com/tEYz8vb59b
— vitalik.eth (@VitalikButerin) 07 de Janeiro, 2022
Vitalik explicou que as pontes Cross-Chain não são boas o suficiente, pois elas aumentam os riscos de segurança no processo de movimentação de moedas e tokens entre chains(cadeias). Ele explicou o risco potencial que um ataque de 51% pode ter em ativos não nativos e o efeito no blockchain ao qual o ativo é nativo.
Ele começou explicando como o estado do blockchain pode ser revertido após a ocorrência de um ataque de 51%.
“Por exemplo, supondo que você tenha 100 ETH na Ethereum, e a Ethereum recebe um ataque de 51%, então algumas são censuradas e/ou revertidas. Não importa o que aconteça, você ainda terá 100 ETH. Mesmo que um invasor lance um ataque de 51%, ele não pode realizar um bloqueio que remova seus 100 ETH, porque esse bloqueio violaria as regras do protocolo e então ele seria rejeitado pela rede. Mesmo que 99% do hashpower ou stake queiram tirar seu ETH, todos que executam um nó irão seguir na chain (cadeia) com o 1% restante, porque apenas seus blocos seguem as regras do protocolo. De maneira geral, se você tiver um aplicativo no Ethereum, um ataque de 51% poderá censurá-lo ou revertê-lo por algum tempo, mas o que sai no final é um estado consistente”
Ele explicou que os riscos aumentam se um ativo for mantido em uma cross-chain:
“Agora, vamos imaginar o que acontece se você mover 100 ETH para uma ponte em Solana, para obter 100 Solana-WETH, e então o Ethereum recebe um ataque de 51%. O invasor depositou um monte de seu próprio ETH em Solana-WETH e depois reverteu essa transação no lado Ethereum assim que o lado Solana a confirmou. O contrato da Solana-WETH agora não é mais totalmente garantido, e talvez os seus 100 Solana-WETH passem a valer agora 60 ETH. Mesmo que haja uma ponte perfeita baseada em ZK-SNARK que valide totalmente o consenso, ela ainda é vulnerável a roubo por meio de ataques de 51% como esse.”
“O problema piora quando você ultrapassa duas chains. Se existirem 100 chains, acabará havendo dapps (aplicativos descentralizados) com muitas interdependências entre essas chains, e um ataque de 51% em uma mesma chain criaria um contágio sistêmico que ameaçaria a economia desse ecossistema inteiro. É por isso que eu acho que as zonas de interdependência provavelmente se alinham com as zonas de soberania (portanto, muitos aplicativos do universo Ethereum interagindo intimamente uns com os outros, muitos aplicativos do universo Avax interagindo também uns com os outros, etc etc. Mas NÃO aplicações do universo Ethereum e do universo Avax interagindo estreitamente entre si)”
As preocupações do Vitalik são realmente válidas. Ele não parece ser contra a interoperabilidade, ele simplesmente não acredita que as Cross-Chain ajudariam a facilitar a conectividade adequada entre blockchains. Um exemplo real de suas preocupações é a disseminação do coronavírus. O vírus conseguiu se espalhar pelo mundo inteiro por conta do processo de conectividade que os países desenvolveram entre si ao longo dos anos. No passado, doenças como a peste bubônica e a gripe espanhola não se espalharam tanto quanto o coronavírus em 2020.
Isso não significa que a conectividade entre as nações do mundo seja algo ruim, mas como mostra a disseminação do vírus, devido à ausência de medidas adequadas entre as nações, o vírus se espalhou com facilidade. A disseminação do coronavírus é obviamente mais complexa do que isso, apenas usei como exemplo básico para ilustrar os pensamentos do Vitalik.
O ponto central do seu argumento era que os ativos nativos deveriam permanecer em suas blockchains nativas, pois é mais seguro.
“É sempre mais seguro manter ativos nativos de Ethereum na Ethereum ou ativos nativos de Solana na Solana do que manter ativos nativos de Ethereum na Solana ou ativos nativos de Solana na Ethereum”
Suas preocupações se tornaram realidade quando a ponte Wormhole na blockchain da Solana foi hackeada no início deste ano de 2022. Cerca de 120.000 Ether avaliados no valor de mais de US$ 375 milhões foram roubados da ponte.
O protocolo de ponte de token Wormhole conecta várias redes blockchain, como a Ethereum, Solana, Terra, BNB Smart Chain, Polygon, Avalanche e a Oasis. A exploração foi considerada uma das maiores de 2022 desde o momento que ela ocorreu. De acordo com a Certik, uma empresa de auditoria de contratos inteligentes, ela afirmou que a ponte Wormhole que liga a blockchain Terra poderia ser afetada pela mesma vulnerabilidade que a ponte Solana.
Multi-Chain
A Multi-Chain é uma tecnologia que exige que os projetos existam em pelo menos duas blockchains ao mesmo tempo. Isso facilita a comunicação entre vários blockchains. Projetos Multi-Chain incluem Polkadot e Cosmos.
A Polkadot é uma rede multi-chain fragmentada, os usuários podem realizar transações em várias chains de forma simultânea sem precisar passar de uma rede para outra. Ele permite que os desenvolvedores construam suas blockchains (“parachains”) em cima da infraestrutura existente. A rede Polkadot atua como uma chain de camada 0 sobre a qual várias chains de Camada 1 podem ser construídas. Todas as parachains estão conectadas umas às outras através da Relay Chain principal da Polkadot. A Relay chain está no centro da Polkadot e é responsável pela segurança, mantendo a conformidade da rede com a ajuda dos mecanismos de consenso híbrido: o GRANDPA e a BABE Nominated Proof-of-Stake (NPoS).
Simplificando, a Polkadot busca ser a “blockchain das blockchains”
O Cosmos é um ecossistema de blockchains que escala e interage entre si. O projeto visa ajudar os desenvolvedores a construir blockchains que se comunicarão e realizarão transações entre si.
O objetivo final é construir uma Internet de Blockchains. Essencialmente, uma rede para blockchains se comunicarem de maneira descentralizada. Essas blockchains manterão sua soberania, irão processar transações de forma mais rápida e poderão interagir com outras blockchains no ecossistema. O projeto busca atingir esse objetivo usando ferramentas de código aberto como o Tendermint, Cosmos SDK e IBC, projetadas para ajudar os desenvolvedores a criar aplicativos blockchain especializados, seguros, escaláveis e interoperáveis.
O Cosmos tem vários hubs centrais aos quais várias zonas podem se conectar para interagir com outras zonas. A Terra, THORChain e a Cronos Chain da Crypto.com estão entre os nomes mais populares que se estabeleceram no Cosmos.
Conclusão
As preocupações do Vitalik não são infundadas e os eventos recentes provam que ele está certo. No entanto, é importante notar que a tecnologia cross-chain está em seu estágio inicial e tem suas falhas, portanto, não deve ser descartada tão cedo.
Atualmente, as pontes são a única solução de Cross-Chain disponível e seu estado atual não é perfeito. Como vimos no espaço criptográfico em geral, a inovação deve impulsionar melhorias nessa tecnologia e até facilitar o desenvolvimento de novas soluções para auxiliar nas transações de cross-chain.
Em última análise, independentemente da forma como a interoperabilidade for alcançada, será uma característica importante para a tecnologia blockchain. Isso porque a tecnologia seria mais eficiente e fácil de adotar amplamente se todas as blockchains fossem interoperáveis.
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