Nossa presença na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) foi marcada por uma conversa mais técnica e provocadora sobre o que realmente significa descentralizar a infraestrutura digital. Ao contrário da palestra na Ipê.city, que teve foco na descentralização como um paradigma sociopolítico, desta vez exploramos a Polkadot a partir de seu desenho arquitetônico, econômico e computacional.
Computação descentralizada como unidade de valor
A palestra teve início com uma explicação detalhada sobre como a Polkadot propõe uma nova camada de infraestrutura digital, onde blockchains específicas (as parachains) podem operar em paralelo, alugando núcleos computacionais (cores) da relay chain. Esses núcleos não são gratuitos: são disputados por meio de leilões, pagos em DOT, e representam o direito de executar aplicações em uma nuvem pública descentralizada.
Mais do que medir a rede em número de transações por segundo, a Polkadot mede sua força pela capacidade de execução distribuída. Isso ressignifica o que entendemos por escalabilidade e mostra que estamos diante de um novo paradigma computacional.
Quando liberdade encontra limites: o caso dos núcleos monopolizados
Durante a conversa, um exemplo emblemático foi trazido à tona: o de um participante que conseguiu adquirir quase todos os núcleos computacionais da rede, limitando o acesso de outros projetos. Esse caso gerou uma discussão intensa entre os membros da comunidade, refletindo sobre os riscos de escassez dentro de um sistema que se propõe público e aberto.
Esse tipo de situação levanta uma questão importante: até que ponto a liberdade total em um ambiente descentralizado pode gerar concentração? E como a governança on-chain pode reagir a isso de maneira equilibrada?
O Fellowship técnico e a reputação baseada em evidências
Outro tema aprofundado foi o modelo de reconhecimento técnico da Polkadot. Ao invés de promover lideranças por título ou networking, a rede estabelece um sistema de progressão baseado em evidência: os desenvolvedores sobem de nível e aumentam sua remuneração a partir da qualidade e impacto de suas contribuições técnicas registradas on-chain.
Esse sistema, conhecido como Fellowship, reforça a ideia de que a governança técnica pode (e deve) ser construída sobre provas públicas e auditáveis, criando uma cultura de mérito real e rastreável.
Parachains especializadas: além das blockchains genéricas
Explicamos também como a estrutura modular da Polkadot permite que diferentes parachains sejam projetadas para resolver problemas específicos. Ao contrário de blockchains genéricas como Ethereum, que oferecem ambientes generalistas para execução de contratos, a Polkadot estimula a criação de redes com algoritmos de consenso próprios, lógica de execução customizável e mecanismos específicos de validação. Cada parachain pode ser entendida como um microestado digital, interoperável, mas com soberania técnica.
Estratégia ou ameaça? O caso da parachain Hydration
Fechamos o encontro com outro dilema real: a proposta de aquisição da parachain Hydration pela própria fundação Polkadot. A medida foi vista por alguns como um avanço estratégico, mas por outros como uma violação da autonomia das parachains. Esse caso nos levou a discutir até que ponto é saudável para uma rede descentralizada fazer movimentos de compra e fusão. A fronteira entre coordenação e controle é tênue, e exige vigilância contínua por parte da comunidade.
Educação pública como campo de disputa por futuros
Compartilhar esse conteúdo na UFSC não foi apenas uma oportunidade de diálogo técnico, mas um momento de articulação entre o saber acadêmico e o desenvolvimento de novas infraestruturas digitais. A universidade tem um papel central na construção de uma Web3 consciente, crítica e inclusiva. Nosso objetivo com essa palestra foi provocar reflexão e inspirar ação. Sinto que conseguimos.
Segue o material utilizado na palestra para complementar ainda mais seu entendimento:
🎥 Se você quiser assistir à palestra completa, o vídeo está disponível abaixo em inglês. Basta ativar a legenda automática do YouTube para acompanhar em português.
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